Estelionato Digital: o golpe invisível que está drenando o seu dinheiro todos os meses
- Maíra Brito

- 21 de nov.
- 4 min de leitura
Atualizado: 23 de nov.
Por Maíra Brito
Nos últimos anos, o estelionato digital deixou de ser um risco futuro para se tornar parte do cotidiano de milhões de brasileiros. E o mais assustador é que, muitas vezes, a vítima nem percebe que está sendo roubada. A conta esvazia mês a mês, os gastos aumentam, e a pessoa conclui:“Ganhei pouco.”“Tudo está caro.”“Preciso me organizar melhor.”
Mas… e se a explicação não estiver na Economia — e sim no Crime?
Hoje, contas bancárias estão sendo invadidas por organizações criminosas que se aproveitam de momentos comuns do dia a dia: uma pesquisa no Google, um anúncio em rede social, um clique inofensivo. É o estelionato digital agindo com eficiência, silêncio e uma precisão quase cirúrgica.
Como os criminosos atraem as vítimas
Os golpistas não atacam bancos.Eles atacam pessoas.
E fazem isso usando engenharia social refinada, psicologia, algoritmos e coleta silenciosa de dados.
1. Anúncios falsos de empréstimos pessoais
Ofertas milagrosas com “juros simbólicos”, liberação imediata e sem consulta. A vítima clica e é levada para páginas falsas que pedem:
CPF
RG
Endereço
Telefone
Foto do documento
Vídeo de prova de vida
Essas informações, juntas, valem ouro.
2. Promoções, sorteios e cupons “imperdíveis”
Sorteios de carros, cupons de R$ 500, “teste de personalidade”, “descubra quem visitou seu perfil”…Tudo isso coleta dados suficientes para montar um dossiê da vida da vítima.
3. Algoritmos que trabalham a favor do crime
Criminosos compram anúncios segmentados exatamente para:
quem pesquisou crédito,
quem está em momento financeiro vulnerável,
quem procura ofertas, descontos, passagens baratas,
quem clicou em algo semelhante recentemente.
Eles aparecem quando você está mais propenso a confiar.
Como eles invadem a conta bancária
A pergunta é sempre a mesma:
“Mas eu nunca entreguei minha senha. Como eles entram?”
A resposta combina engenharia social, dados pessoais e dispositivos comprometidos.
1. Recuperação de senha usando seus dados
Com nome completo, CPF, data de nascimento, telefone e e-mail, eles conseguem:
solicitar redefinição de senha,
receber códigos por SMS (quando há chip swap),
validar perguntas de segurança,
alterar dados cadastrados.
2. Instalação silenciosa de malware
Ao clicar em páginas e links falsos, a vítima pode instalar sem perceber:
aplicativos espiões,
keyloggers,
extensões que capturam digitação,
aplicativos “espelho”.
Eles gravam tudo — inclusive sua senha do banco.
3. Sequestro de WhatsApp e e-mail
Com isso, os criminosos passam a:
redefinir acessos,
confirmar operações,
receber códigos de autenticação,
aprovar transações.
4. Acesso remoto ao celular
Aplicativos como:
AnyDesk
TeamViewer
QuickSupport
permitem que o bandido controle o celular em tempo real, vendo literalmente cada passo da vítima dentro do app do banco.
Por que o golpe parece gasto comum?
Porque eles não fazem grandes transações.Eles usam a conta da vítima para:
pequenos PIX,
Uber, 99, iFood, Rappi,
recargas,
compras online discretas.
Eles sabem que:
pequenas despesas passam despercebidas,
o banco não bloqueia,
a vítima só percebe no extrato mensal.
Não é que você está gastando demais.É que alguém está gastando no seu lugar.
Por que isso acontece no meio do mês?
Porque nessa fase:
as contas já foram pagas,
o salário já caiu,
o alerta financeiro diminui,
há mais navegação em redes sociais,
há busca por promoções, crédito, “alguma ajuda”.
O criminoso sabe disso — e o algoritmo também.
Como se proteger — de verdade
Nunca clique em anúncios de empréstimos.Acesse diretamente o site da instituição.
Nunca envie foto de documento para promoções ou sorteios.
Ative autenticação de dois fatores no e-mail, WhatsApp e contas bancárias.
Nunca instale aplicativos de acesso remoto.
Desconfie de links enviados por SMS ou WhatsApp.
Use senhas diferentes para banco e e-mail.
Faça varredura de malware no celular.
Como identificar se você está sendo vítima
Entre no seu banco.
Gere o extrato mensal em PDF.
Abra no computador.
Peça ao ChatGPT:
“Analise meu extrato e identifique as maiores despesas, categorias de gasto, gargalos, e irregularidades no padrão das minhas compras.”
Se aparecer qualquer gasto que:
não corresponde ao seu padrão,
não faz parte da sua rotina,
ocorreu em horários ou locais atípicos,
existe forte chance de você estar sendo vítima de estelionato digital.
Próximo passo: constatou a fraude?
1. Faça o Boletim de Ocorrência
Em São Paulo:
4ª Delegacia de Crimes Cibernéticos – DEIC
2. Comunique imediatamente ao banco
Explique que:
você está sendo vítima de estelionato digital,
a fraude envolve posse de dados pessoais completos,
mudança de senha ou de conta não resolve,
e que, a partir desse momento, você adotará controle rígido de movimentação.
Como adotar um controle financeiro seguro sem se expor
Aqui está a parte essencial — agora revisada para ficar profissional, segura e juridicamente sólida.
A partir da notificação ao banco, você deve:
→ Adotar um padrão fixo de movimentação
Isso significa:
definir um horário específico em que você realiza suas movimentações financeiras,
e manter sua conta com saldo zerado ou próximo de zero fora desse período.
Esse padrão serve para que:
qualquer operação fora do horário estabelecido→ seja atribuída exclusivamente ao banco, que tem responsabilidade objetiva (CDC + jurisprudência do STJ).
→ Realizar movimentações em ambiente seguro
Se for necessário fazer saques, faça somente:
em locais movimentados,
com vigilância, câmeras e controle de acesso,
como terminais localizados em centros comerciais.
Nunca divulgue sua rotina, horários ou valores.
→ Alternar instrumentos financeiros
Você pode aumentar sua segurança usando:
contas de pagamento com saldo controlado,
carteiras digitais,
cartões pré-pagos,
divisão de valores entre instituições.
Assim, você cria múltiplas camadas de proteção.
O ponto central é:🔒 não manter recursos parados em contas vulneráveise🔒 criar um padrão que o banco possa auditar.
A verdade dura — mas libertadora
Se seu dinheiro está sumindo “misteriosamente”, talvez não seja desorganização financeira.Talvez seja crime.
Os criminosos não precisam mais te abordar na rua.Hoje, eles entram:
pela sua tela,
pela sua busca no Google,
pelo anúncio certo no momento certo,
pelo clique que parecia inofensivo.
Você não é culpada.Você é alvo.
E a única defesa possível é informação, vigilância e atitude jurídica correta.
Quando você entende como o golpe funciona, você para de se culpar — e começa a agir para recuperar sua segurança digital.
Agravantes e majorantes do Estelionato Digital (para fins penais)
Pena-base — art. 171 (fraude eletrônica)
➡️ 4 a 8 anos de reclusão + multa
Majorantes específicas — Lei 14.155/2021
Servidor no exterior➡️ Aumento de 1/3 a 2/3
Contra Administração Pública / Instituições Assistenciais➡️ +1/3
Contra idoso (60+)➡️ +1/3
Agravantes gerais (art. 61 CP)
motivo torpe
motivo fútil
abuso de confiança
abuso de vulnerabilidade da vítima
dissimulação complexa
crime continuado (1/6 a 2/3)
concurso de pessoas





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