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O Modelo SRDHM: Um Referencial Global em Investigação Forense Digital

  • Foto do escritor: Maíra Brito
    Maíra Brito
  • 30 de ago.
  • 3 min de leitura

Introdução


No cenário atual, em que os crimes digitais crescem em proporção e sofisticação, surge a necessidade de métodos estruturados para garantir a validade jurídica e a confiabilidade das provas digitais. Nesse contexto, o Systematic Digital Forensic Investigation Model (SRDHM), ou Modelo de Investigação Forense Digital Sistemática, apresenta-se como um dos referenciais globais mais completos.


Trata-se de um modelo composto por 11 fases interdependentes, que estruturam o processo investigativo desde a preparação até o encerramento, assegurando a integridade das evidências e a efetividade dos resultados.


1. Contexto da Investigação Forense Digital


A investigação forense digital é uma disciplina que aplica técnicas científicas e metodológicas para coletar, preservar, analisar e apresentar evidências digitais em processos judiciais ou administrativos. Diferente da investigação criminal tradicional, ela lida com informações voláteis, facilmente alteráveis ou destruíveis, o que demanda um rigor metodológico ainda maior.


Nesse sentido, modelos como o SRDHM surgem para padronizar procedimentos, aumentar a segurança jurídica e oferecer suporte técnico confiável a tribunais, empresas e órgãos de investigação.


2. Estrutura do Modelo SRDHM


O SRDHM é composto por 11 fases sequenciais, que podem se sobrepor dependendo do caso concreto, mas que devem sempre ser documentadas e respeitadas para garantir a validade processual das provas.


1️⃣ Preparação

Definição do escopo do crime, recursos necessários, obtenção de autorizações legais e planejamento estratégico.

2️⃣ Proteção da Cena do Crime

Isolamento físico e digital para evitar adulteração ou contaminação das evidências.

3️⃣ Identificação

Mapeamento inicial das possíveis fontes de evidências (dispositivos, mídias, logs, servidores etc.).

4️⃣ Documentação

Registro detalhado de todas as etapas, incluindo fotografias, horários, assinaturas e a criação da cadeia de custódia.

5️⃣ Bloqueio de Comunicações

Desativação de conexões que possam alterar dados remotamente (Wi-Fi, Bluetooth, redes móveis).

6️⃣ Coleta de Evidências

Utilização de ferramentas certificadas para extrair dados voláteis (RAM, processos em execução) e não voláteis (HDs, SSDs, mídias externas).

7️⃣ Armazenamento e Transporte

Acondicionamento seguro das evidências, com lacres e numeração, assegurando a rastreabilidade até o laboratório forense.

8️⃣ Exame e Análise

Estudo técnico minucioso: recuperação de arquivos apagados, análise de logs, rastreamento de acessos e cruzamento de informações.

9️⃣ Apresentação

Preparação de relatórios técnicos claros, objetivos e inteligíveis para magistrados e autoridades.

🔟 Retorno dos Resultados

Avaliação das hipóteses iniciais, identificação de novas linhas de investigação e retroalimentação do processo.

1️⃣1️⃣ Encerramento

Conclusão formal da investigação, arquivamento seguro das evidências e lições aprendidas.


3. Finalidade do Modelo SRDHM


O SRDHM não é apenas um roteiro, mas um instrumento de legitimação processual. Sua finalidade pode ser resumida em quatro eixos:


  • Padronização: uniformiza procedimentos e reduz erros.

  • Integridade: assegura a preservação da cadeia de custódia.

  • Segurança jurídica: garante que as provas sejam aceitas em tribunal.

  • Eficiência investigativa: estrutura lógica que aumenta as chances de resolução dos casos.


4. Exemplo Prático: Fraude Bancária Online


Para ilustrar a aplicabilidade do SRDHM, vejamos um caso hipotético de fraude bancária via internet banking:


  1. Preparação: obtenção de mandado judicial e definição da equipe.

  2. Proteção da Cena: apreensão e isolamento de notebook, celular e roteador do suspeito.

  3. Identificação: reconhecimento dos dispositivos como fontes de evidência.

  4. Documentação: registro fotográfico e início da cadeia de custódia.

  5. Bloqueio de Comunicações: desativação de redes do celular e isolamento em bolsa de Faraday.

  6. Coleta: extração de dados da RAM, HD e registros de conexão.

  7. Armazenamento: transporte seguro para o laboratório forense.

  8. Exame e Análise: descoberta de software de phishing e registros de acesso à conta do cliente.

  9. Apresentação: relatório técnico comprova o vínculo entre suspeito e fraude.

  10. Retorno dos Resultados: abre-se nova linha para investigar lavagem de dinheiro.

  11. Encerramento: arquivamento seguro das provas e encaminhamento do caso ao Ministério Público.


Neste exemplo, fica evidente como o SRDHM garante que as provas sejam confiáveis e válidas em juízo, reduzindo a possibilidade de nulidades.


5. Relevância Global


O SRDHM é reconhecido internacionalmente como referência em boas práticas forenses digitais. Sua aplicabilidade transcende fronteiras, pois pode ser adaptado a diferentes ordenamentos jurídicos, respeitando sempre princípios universais da cadeia de custódia e da validade da prova.


Com a globalização do crime cibernético, que frequentemente envolve múltiplas jurisdições, adotar modelos como o SRDHM é fundamental para facilitar cooperação internacional e alinhar metodologias entre países.


Conclusão


O avanço tecnológico trouxe novas modalidades de crime, mas também novas ferramentas de investigação. O Modelo SRDHM destaca-se como um dos mais completos referenciais globais, ao oferecer um roteiro estruturado, validado e seguro para a atuação em investigações forenses digitais.


Seu uso assegura a legitimidade jurídica das provas, fortalece a confiança institucional no processo investigativo e contribui para a eficácia na punição de crimes digitais. Em um mundo onde a informação é volátil e facilmente manipulável, metodologias como o SRDHM tornam-se não apenas úteis, mas indispensáveis para a justiça.


Autora: Maíra Bandeira de Brito.

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