A Cadeia de Custódia das Provas Digitais: Etapas, Padrões Internacionais e Ferramentas Adequadas
- Maíra Brito

- 30 de ago.
- 3 min de leitura
Introdução
Um dos grandes desafios do Direito Digital e da Criminologia contemporânea é a validade das provas digitais. Surgem questionamentos como:
"As provas digitais, para passarem por uma cadeia de custódia, devem respeitar todas as etapas de um procedimento que segue um padrão internacional, utilizando todas as ferramentas necessárias para que não se desintegrem, não sejam manipuladas, não se deteriorem ou, em outras palavras, não haja prejuízo delas. Mas afinal, qual é esse padrão internacional? Quais são as ferramentas adequadas? E quais são as etapas a serem seguidas?"
Responder a essas perguntas é essencial, já que a confiabilidade das provas digitais impacta diretamente sua admissibilidade no processo judicial.
Padrões Internacionais
A manipulação correta das provas digitais segue padrões internacionais amplamente aceitos. Dois referenciais principais são:
NIST (National Institute of Standards and Technology) – em especial o guia NIST SP 800-101, que traz diretrizes sobre forense digital.
ISO/IEC 27037 – estabelece diretrizes para identificação, coleta, aquisição e preservação de evidências digitais.
Esses padrões servem como garantia de uniformidade, transparência e credibilidade na preservação da prova digital.
Etapas da Cadeia de Custódia Digital
Para que a prova digital seja considerada válida, é necessário respeitar uma sequência de etapas que documentam todo o ciclo de vida da evidência:
Identificação – localizar os dispositivos ou mídias que podem conter dados relevantes.
Coleta – extrair os dados sem comprometer a integridade, utilizando técnicas e ferramentas adequadas.
Aquisição/Preservação – criar uma cópia forense (bit a bit) do material, preservando o original intacto.
Armazenamento – manter a prova em ambiente seguro, com controle de acesso e registro de movimentação.
Análise – examinar a prova utilizando softwares forenses validados.
Apresentação – elaborar relatórios técnicos claros, compreensíveis ao juízo.
Documentação – registrar cada ação realizada, garantindo rastreabilidade e transparência.
Ferramentas Adequadas
Para que cada etapa da cadeia de custódia seja cumprida de forma idônea, diferentes ferramentas são aplicadas. Entre as principais, destacam-se:
1. Softwares de coleta e análise forense
EnCase, FTK, Autopsy e X-Ways são utilizados para extrair e analisar dados sem comprometer o original, fornecendo relatórios aceitos em tribunais.
2. Write Blockers (bloqueadores de escrita)
Dispositivos que permitem apenas leitura do disco original, impedindo qualquer modificação acidental ou proposital.
3. Geradores de Hash (MD5, SHA-1, SHA-256)
Funções criptográficas que criam uma “impressão digital” única da prova, garantindo que ela permaneceu íntegra durante todo o processo.
4. Duplicadores de discos e armazenamento seguro
Permitem a criação de cópias forenses bit a bit e preservação em cofres digitais ou nuvens criptografadas, mantendo o original intacto.
5. Blockchain e carimbo do tempo digital
Ferramentas modernas que reforçam a rastreabilidade e autenticidade temporal da prova, assegurando quando e como foi coletada.
Tabela Comparativa das Ferramentas
Ferramenta | Função | Exemplo(s) | Importância no Processo |
Softwares de coleta e análise forense | Extrair, analisar e gerar relatórios de dados digitais sem alterar o original | EnCase, FTK, Autopsy, X-Ways | Permitem análise técnica detalhada, aceitos judicialmente, com documentação completa |
Write Blockers (bloqueadores de escrita) | Impedir alterações no disco original, permitindo apenas leitura | Tableau Forensic Write Blocker | Garante que o original nunca seja alterado, protegendo a integridade da prova |
Geradores de Hash (MD5, SHA-1, SHA-256) | Criar “impressão digital” matemática dos dados | SHA-256 (mais seguro) | Prova a integridade da evidência, assegurando que não houve adulteração |
Duplicadores de discos e armazenamento seguro | Criar cópias bit a bit e guardar em mídias seguras | Forensic Imager, cofres digitais, nuvem criptografada | Mantém cópias idênticas para análise, preservando o original intacto |
Blockchain / Carimbo do tempo digital | Registrar existência e integridade da prova com data/hora | Timestamp via AC, registro em blockchain | Reforça a autenticidade temporal e a rastreabilidade da prova |
Conclusão
A utilização de padrões internacionais, aliada ao uso de ferramentas adequadas e ao cumprimento rigoroso das etapas da cadeia de custódia, garante que a prova digital seja íntegra, autêntica e válida em juízo.
Mais do que aspectos técnicos, trata-se de um compromisso com a segurança jurídica e com a confiabilidade da prova no ambiente digital, cada vez mais central em investigações criminais, civis e empresariais.
Autora: Maíra Bandeira de Brito.





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