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CLT, Concurso ou CNPJ: Ninguém está fora do "Sistema"

  • Foto do escritor: Maíra Brito
    Maíra Brito
  • há 7 horas
  • 2 min de leitura

A internet está cheia de promessas de liberdade. Basta rolar o feed de qualquer rede social por alguns minutos para encontrar o discurso sedutor: "demita seu patrão", "saia da corrida dos ratos", "fuja do sistema". A narrativa vende o empreendedorismo não apenas como uma opção de carreira, mas como a única rota de fuga para uma suposta escravidão moderna vivida por trabalhadores CLT, concursados e autônomos.

Mas, ao analisarmos essa premissa sob a ótica da realidade fiscal e jurídica brasileira, encontramos uma ironia gritante.

A verdade inconveniente é que, ao abrir uma empresa, você não está fugindo do sistema. Pelo contrário: você está assinando um contrato de fidelidade com ele, tornando-se uma peça muito mais monitorada e cobrada pela engrenagem estatal do que qualquer funcionário jamais será.

O Governo como "Sócio Oculto"

O grande paradoxo do discurso de "sair da matrix" é ignorar quem realmente manda no jogo. Enquanto o trabalhador assalariado tem seus impostos retidos na fonte e lida com uma burocracia simplificada, o empresário acorda todos os dias com um "sócio" que não investiu capital, não assume riscos, mas tem preferência na retirada dos lucros: o Estado.

Empreender no Brasil significa, antes de tudo, tornar-se um especialista em compliance tributário. ICMS, ISS, IRPJ, CSLL, PIS, COFINS... a sopa de letrinhas fiscal garante que o empresário trabalhe uma parcela significativa do ano apenas para estar em dia com o tal "sistema" do qual ele jurou que estava fugindo.

A Troca de Chefes

O argumento de "não ter patrão" também cai por terra rapidamente. A liberdade de não ter um superior hierárquico é trocada pela submissão a chefes muito mais implacáveis e impessoais:

  1. A Receita Federal e os Fiscos Estaduais/Municipais: Que exigem precisão cirúrgica e punem erros com multas pesadas.

  2. A Legislação Trabalhista: Ironicamente, o empresário que "foge" da CLT para si mesmo torna-se o garantidor dos direitos CLT de terceiros. Ele não usufrui da proteção, mas é obrigado a fornecê-la, sob risco de passivos trabalhistas que podem comprometer seu patrimônio pessoal.

  3. O Mercado e a Regulação: Vigilância sanitária, alvarás, bombeiros e agências reguladoras ditam as regras do jogo.

Liberdade é Escolher Seus Problemas


Não me entenda mal: o empreendedorismo é fundamental para a economia e pode, sim, gerar riqueza e realização pessoal. O problema não é empreender; o problema é a venda da ilusão.

Demonizar a carreira pública, o trabalho autônomo ou o emprego CLT como formas de "prisão" é intelectualmente desonesto. O concursado tem a estabilidade e a clareza das regras do edital. O celetista tem a proteção da lei e o limite da jornada. O autônomo tem a flexibilidade técnica. E o empresário? O empresário tem o risco e a responsabilidade total.

No fim das contas, ninguém vive fora do sistema. Vivemos em sociedade e sob o império das leis. A verdadeira liberdade não está em achar uma saída mágica da realidade, mas em escolher conscientemente de que lado do balcão você prefere lidar com ela: gerenciando riscos e gerando valor, ou executando tarefas e buscando segurança.

Que paremos de romantizar a "fuga" e comecemos a valorizar a escolha.

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